DA PROIBIÇÃO AOS PRIMEIROS CAMPEONATOS

Acervo do Arquivo Público ajuda a entender um pouco da história do futebol feminino em MT

Sexta-feira, 18 de agosto de 2023 | Publicado às 15h53

Matérias dos jornais 'O Estado de Mato Grosso' e do 'Jornal do Dia' revelam um pouco da evolução do futebol feminino nas décadas de 1970 e 1980 no Estado

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O Arquivo Público de MT possui um acervo de mais de mais de 30 mil edições de 400 jornais que já estiveram em circulação no Estado. (Cristiano Emanuel/Seplag-MT)

A história das mulheres no Brasil sempre foi de muita luta. E no futebol, não foi diferente. O Arquivo Público de Mato Grosso conta com mais de 30 mil edições de 400 jornais que já estiveram em circulação no Estado e que ajudam a entender uma parte dessa história na região. No noticiário local daquela época, o futebol feminino era tratado em pequenas notas, como coadjuvante do futebol masculino ou em nível amador.

A matéria do dia 24 de outubro de 1973 do Jornal o Estado de Mato Grosso, que faz parte do acervo do Arquivo Público de MT, traz na íntegra um ofício enviado pelo Conselho Nacional de Desportos (CND) para a federação mato-grossense recomendando que a prática esportiva entre mulheres não fosse estimulada pela entidade. O argumento era que o esporte para mulheres era “reconhecidamente nocivo, segundo os bons princípios da educação física”.

No ofício publicado em 24 de outubro de 1973 no Jornal o Estado de Mato Grosso, o então diretor do Departamento de Coordenação e Desportos, Abílio Ferreira d´Almeida, recomendou à federação mato-grossense que não incentivasse o futebol feminino. (Crédito: Acervo do Arquivo Público)


Em outra matéria do Jornal O Estado de Mato Grosso de 20 de abril de 1976 que tem como manchete “Futebol Feminino é Proibido no Brasil”, o texto destaca que o decreto não proíbe a prática do esporte, apenas sua profissionalização, mas reforça que “não há qualquer possibilidade de se se promover torneios oficiais”.

 

Matéria do dia 20 de abril de 1976 do jornal O Estado de Mato Grosso indica que nada impede a promoção de “shows” em que mulheres uniformizadas disputem uma partida. (Crédito: Acervo do Arquivo Público)


Foi somente com o fim da proibição em 1979 e da regulamentação a partir do ano de 1983 que o futebol feminino começou a receber um pouco mais de atenção, porém mantendo o status de amador ou sendo tratado como uma atração antes das partidas dos times masculinos.

Na matéria de 4 de janeiro de 1984 do Jornal do Dia sobre a inclusão de partidas do futebol feminino no campeonato estadual, a medida era vista inicialmente como uma forma das agremiações conseguirem ter mais uma fonte de renda. A matéria também destacava que existiam cerca de 45 equipes femininas no Estado, o que demonstrava um crescimento da modalidade em Mato Grosso.

E naquela época, não faltava criatividade na hora de escolher os nomes das equipes. Em matéria publicada no dia 28 de fevereiro de 1984 pelo Jornal do Dia, o destaque ficou por conta do time das Harmony Cats de Bonsucesso, que venceram as Moreninhas do Planalto por 8 a 0, e também para as Milionárias de Várzea Grande, que golearam as Patotinhas por 9 a 0.

Fomento ao esporte

Visando contribuir para o crescimento do futebol em Mato Grosso, o Governo do Estado está investindo em todos os times regionais que estiverem nas principais divisões do futebol nacional. No caso dos times femininos, os que disputarem a Séria A1 receberão R$ 3,5 milhões por ano. Os times que disputarem a Série A2, terão um montante de R$ 2 milhões. Já os que estiverem na Série A3, receberão R$ 1,5 milhão. 

Além disso, o Governo de MT, por meio da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel), abriu o Edital “Pontos de Esporte e Lazer no Estado de Mato Grosso”, que beneficiára ações e projetos já existentes nas comunidades em prol de atividades esportivas. O valor total investido será de R$ 1,6 milhão, dividido entre 40 projetos.

Preservação da História

Para o historiador e especialista em gestão de arquivos, Hilário Teruya, que atua como Coordenador de Preservação, Difusão e Apoio a Pesquisa do Arquivo Público de MT, os jornais que fazem parte do acervo da instituição são fonte informacional e ajudam a entender a visão do passado, desde grandes acontecimentos políticos, econômicos e sociais até temas do cotidiano, com apelo cultural ou esportivo.

“Por meio dos periódicos, é possível visualizar como era a prática do futebol feminino no Estado, com informações que passam desde a proibição da prática na década de 40, no século XX, até a retomada dos torneios amadores na década de 80”.

Ele lembra que os jornais representam apenas um recorte temático ou um posicionamento do veículo que determina o que é relevante ou não para ser publicado. E o futebol feminino não foge dessa regra. Parte dessa história não está documentada em matérias de jornais justamente em razão da proibição que durou até o ano de 1983. 

Sobre o Arquivo Público

Localizado na avenida Getúlio Vargas, nº 451, no Centro de Cuiabá, o local preserva um acervo de documentos dos períodos colonial, imperial e republicano, além de uma biblioteca composta por microfilmes e mais de 40 mil fotografias. O Arquivo Público Estadual é coordenado pela Superintendência de Arquivo Público, ligada a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) de Mato Grosso. 

Atualmente, o prédio histórico onde funciona o Arquivo Público de Mato Grosso está passando por reformas que visam melhorar as dependências do local. Em razão das obras, o atendimento ao público está sendo realizado de forma online por meio do e-mail arquivopublico@seplag.mt.gov.br

*(Com supervisão de Vitor Hugo Batista) 


Fonte: Thiago Novaes* | Seplag-MT